sexta-feira, 14 de abril de 2017

Carta ao outro lado do caminho

Minha Mariquinha,

Desculpas por tanto tempo sem escrever deve ser a primeira coisa a lhe dizer, mesmo que diariamente eu lhe envie, mentalmente, conversas curtas sobre mim, sobre nós, sobre o Roseiral, sobre tudo. 

Como não sei concretamente como é a sua agenda por aí, acabo mandando telepaticamente mensagens curtas para não lhe atrapalhar. Mas, carta é carta, né? E não sei fazer carta pequena. Quem sabe bem é Roberto, que recebeu minhas cartas de amor longuíssimas quando namorávamos. 

Tá rindo, né? Mas a senhora sabe como ninguém que sou tagarela, seja falando ou escrevendo. Quem mandou colocar o pinto pra piar na minha boca só porque eu não falava quase nada aos 2 anos de idade?

Hoje é Sexta-feira da Paixão. Semana Santa. E ver Roberto preparando um Polvo a Lagareiro para levar ao almoço na casa das meninas me trouxe muita saudade dos feriados em que você preparava almoço pra todos nós. Daquele tempo em que nenhum dos filhos ainda tinha abandonado o ninho. 

Naquela época eu não era muito chegada a peixe. Morria de medo de me engasgar com espinhas. Mas o cheiro do seu peixe era muito bom. E eu comia porque a senhora me orientava a colocar farinha. Com o tempo, e com a convivência com Roberto, aprendi a gostar um pouco mais de peixes, de frutos do mar.

Acho, mamãe, que se aí tiver um alarme de saudade para cada um de vocês que está do outro lado do caminho, hoje o seu disparou desde as primeiras horas do dia, acionado por nossas corujinhas que dormem tarde (Tata e Luciana).

Falei ontem com papai e ele estava com a voz muito boa. Disse que tem dormido bem, apesar de acordar algumas vezes na noite pra ir ao banheiro. Ele acredita que é porque dorme com o ar condicionado ligado e o frio aumenta a vontade de urinar. Mas que volta pra cama e dorme de novo logo em seguida. 

Sei agora a quem puxei nesse ponto. Posso levantar várias vezes, mas volto e num segundo estou dormindo. E sonhando. Igual a papai. Pena que não tenho sonhado com a senhora. Pelo menos não que eu lembre ao acordar.

As coisas aqui no Brasil vão de mal a pior. O governo (#foratemer -, desculpe, é força do hábito) tem buscado retirar todas as conquistas do povo brasileiro, alcançadas com tanta luta. 

Roberto, que queria ficar trabalhando até os 60 anos nos Correios, terá que sair já em junho próximo. Fizeram um plano de demissão incentivada que é uma sacanagem com as pessoas que se dedicaram tantos anos à empresa.

São tantos os políticos envolvidos com a corrupção que daqui a pouco vai ter que dissolver o Senado e a Câmara Federal, tirar presidente e ministros, e chamar novas eleições, com novas regras. Que só possa ser eleito quem nunca teve mandato. Muito triste tudo isso, mamãe.

Mas nunca perco as esperanças de termos um mundo melhor, um Brasil melhor. Continuo fazendo a minha parte, alimentada por seus ensinamentos de ética, de solidariedade, de responsabilidade. Que sorte a minha e dos meus irmãos que tivemos você e papai como pais nesta encarnação. Sou sempre grata.

Vou ficando por aqui porque temos que ir para a casa das meninas. Ah! Avise aí aos meus queridos que estão desse outro lado do caminho que agora tenho uma caixa de correspondência exclusiva para falar com vocês. É este blog "cartas ao outro lado do caminho", que tem como título "Monólogos de Saudade". Depois mando cartas para os demais.

Fica em paz que eu fico por aqui com a sua benção.

Sua filha tagarela,

Vanda.

2 comentários:

  1. Fátima Siqueira Amorim15 de abril de 2017 às 16:59

    Quanta emoção minha irmã! A saudade é muito grande e só grandes amores como nossa mariquinha são lembradas com tanta gratidão e amor, como é a nossa em relação a nossa rainha

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  2. Acabei de ler e fiquei super emocionado. Cleozinha deve amar e dar muita risada.
    Parabéns Maninha

    ResponderExcluir

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