sábado, 9 de maio de 2020

As lembranças da minha mãe aquecem meu coração

                                     

Oi, mamãe

Neste ano não vou deixar a senhora esperando minha cartinha. Comecei a escrevê-la às 23h56min desse sábado, véspera do Dia das Mães. Então, logo nas primeiras horas daqui segue minha cartinha ao outro lado do caminho, onde a senhora se encontra.

Acredito que, do mesmo jeito que esta e outras datas nos deixam tomados de uma saudade imensa, aconteça o mesmo com a senhora. São muitos amores que aqui ficaram e que se multiplicam, né? Até Irla, nossa galeguinha, está prestes a receber Íris... tão linda!

Cada um dos seus filhos, genros, noras, netos, bisnetos e sobrinhos falarão, daqui a pouco, do jeito deles com a senhora. Eu falo do meu jeito. Como sou tagarela até nas letras, falo por aqui.

Minha saudade é constante, a senhora sabe. Mas sabe também que não é com dor e sim com amor e gratidão. Sentimentos intensos.

Há alguns dias vieram na minha cabeça lembranças da infância, de quando acordava aos sábados logo que amanhecia para poder lhe acompanhar na feira, que naquela época acontecia na rua da frente , lá na Avenida Getúlio Vargas. E pra quê? Pra comer o mungunzá de dona Maria, no fim da feira, lá perto da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, lembra? Eu e Messena (o carroceiro), com a carroça enorme que a senhora sempre fretava.

Sabe o porque da lembrança? Porque Roberto resolveu fazer um mungunzá de milho amarelo, com caldo grosso e bastante coco. Pense como ficou gostoso, mamãe. Parecia o de dona Maria e o seu. Ô saudade que deu, minha mariquinha querida.

Lembrei que a senhora dizia que não ia acordar ninguém pra ir pra feira. Quem estivesse acordado logo depois das 5 da manhã, iria. E eu sempre estava. E praticamente corria para acompanhar seus passos rápidos da nossa casa até a rua da frente. Como eu amava aquilo. Só eu e a senhora. Por isso eu quis acompanhá-la algumas vezes, de forma mais recente, quando ia no Réveillon ou São João. Mas não era a mesma feira. Nem tinha mais dona Maria nem Messena. Mas me fazia bem, pois éramos só nós duas. E agora, eu que tinha que diminuir o passo.

E aí lembrei que a senhora tinha um ouvido biônico, digamos assim (risos). Comecei a contar a Roberto (provavelmente pela décima vez) que eu adorava leite em pó e não podia comê-lo como um creme, só com um pouquinho de água, porque o leite era para minhas irmãs menores. Éramos muitos e o leite era caro, nera? Aí eu esperava a senhora entrar no quarto com as três menores depois do almoço para uma soneca. Era minha oportunidade de pegar o leite e comer um pouquinho (não era para beber). Mas bastava eu pegar na lata pra senhora gritar do quarto:"quem está mexendo no leite?". Nunca descobri como a senhora conseguia ouvir, se eu não fazia barulho nenhum. Acho que, como a senhora sabia que eu tentaria aproveitar a soneca, dava só um tempinho e soltava a voz no automático. Aiai, mamãe. Como a senhora sempre foi sabida.

Também lembrei de que, volta e meia, eu acordava logo que amanhecia e ia varrer o quintal da nossa casa lá na antiga Rua L, 96. E quando passava varrendo perto da janela do seu quarto a senhora acordava e perguntava: "quem tá varrendo aí?". Essa lembrança foi provocada porque Roberto fica reclamando de eu levantar logo depois das 7h durante a semana. Estou em casa, em isolamento social por causa dessa doença, mas estou trabalhando e tenho horário a cumprir.

Este é o sexto ano em que no Dia das Mães não teremos engarramento de ligações telefônicas. Mas sei que a sua tela de mensagens estará acesa amanhã de forma intensa. Todos nós emanando amor e saudade.

Sei que a senhora deve estar preocupada com essa doença nova que tem feito tanta gente atravessar o caminho. Mas fique tranquila, mamãe, pois estamos bem. Estamos nos cuidando. Acreditamos que se cada um fizer sua parte, esse isolamento vai passar logo. Quando passar todos nós poderemos nos abraçar e eu mesma poderei abraçar meu filho querido, Cacá, Bruna e, principalmente, Leon, que está cada dia mais esperto e no próximo dia 16 já vai fazer 7 meses.

Daqui a pouco vou dormir e, ao acordar, pegarei você em meus braços, lhe darei meu abraço de caranguejo, bem massageado, e mil beijinhos nos olhos. Eu a amo muito, muito.

Peço que dê um abraço por mim em papai, nas minhas avós e nos meus avôs, em tia Nenem e tia Teca, e nos primos e tios que já estão nesse lado do caminho em que a senhora se encontra agora. Quando for no tempo de Deus nos reencontraremos. Até lá, receba meu amor, minha gratidão e minha saudade. Fique em paz, querida.

Da sua filha tagarela,

Vanda.






2 comentários:

  1. Que linda mensagem, me emocionou muito! Me fez escrever, mentalmente, pra minha mãe e todas as tias e primas que estão no mundo espiritual. Obrigada a vc por ter me impulsionado a fazer isso. Feliz dia das mães pra vc! Te admiro muito, grande abraço virtual!😘

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    Respostas
    1. Não apareceu seu nome, mas fico feliz de ter lhe inspirado. Que om que ficou bem e aqueceu seu coração ao escrever mentalmente para a sua mãe. Um abraço

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