sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Um Natal de nostalgia e saudade

Oi, mamãe. Oi, papai.

Desejo que esta cartinha os encontre bem, em paz, apesar da saudade que imagino que sentem. Aqui a saudade é sempre presente. E muito intensa. Peço que,  no céu, deixem vocês dois lerem juntos minha mensagem.

Hoje é véspera de Natal, mas já tem alguns anos que as luzes não brilham do mesmo jeito.  Mais especificamente desde o seu retorno, mamãe. Acentuando ainda mais com o seu retorno, papai. E ainda tem a pandemia da Covid-19, agora com variantes, que vai completar 2 anos. 

Claro que, como sempre, armei minha árvore de Natal. Vocês entendem que temos que seguir em frente até que seja o momento do nosso reencontro. Temos aqui nossos companheiros, nossos filhos, nossos netos, nossas outras famílias, né? Bem que tentei que Leon, meu netinho, ajudasse. Ele amou as bolas, mas achou que era pra chutar. Fez uma farra espalhando as bolinhas coloridas pela sala e pelo jardim. Ele amou também as luzes que Roberto colocou nas colunas da varanda e no coqueiro. Leon chama tudo isso de Natal.

Quando Roberto enfeita o coqueiro sempre me lembro das lâmpadas que o senhor, papai, colocava no coqueiro da nossa casa da Rua L. Eu adorava ver desde longe e dizer, orgulhosa : “moro naquela casa com o coqueiro iluminado". Mas, fora os enfeites e as luzes, tudo parece mais silencioso, nostálgico. Diferente de muitos anos, da maioria dos anos anteriores, está chovendo muito. Os relâmpagos e trovões começaram agora.

Ontem fiquei olhando pra árvore de natal, mamãe, e senti uma saudade imensa da senhora. Aí fiquei bem quietinha, abraçada com Roberto. Até 2013, no dia 23 ainda comprávamos lembrancinhas.  Lembrei-me daquele ano que passamos o dia todo no shopping, lembra? A senhora queria levar pra Paulo Afonso, no nosso encontro do Réveillon, pelo menos um chocolate para os netos. E as toalhinhas bordadas? Amo a minha coleção feita com todas as que recebi. Tenho certeza que nossas irmãs e noras que ganharam sentem a mesma coisa. Neste ano nem cansei de embrulhar as lembrancinhas do Natal. Não se preocupem, papai e mamãe. As poucas lembrancinhas não são por falta de dinheiro. Graças a Deus está tudo bem comigo. Mas esta não é a realidade de todos. No Brasil, então, a miséria aumentou muito. E um Natal sem dinheiro e com muita chuva é muito triste para milhares de famílias.

Hoje pela manhã, ainda na cama, me senti também muito nostálgica. Aliás, me sinto assim todo dezembro, há sete anos. Minha casa, que eu chamava, brincando, de "pousada raio de luz", está muito silenciosa neste Natal. Não tem a senhora de novo. Nenhuma das meninas que moram em São Paulo vieram. Nem elas nem suas famílias. Val também não veio. Nem Cida. Aninha já tinha algum tempo que não vinha. Cadê a bagunça no quarto de visita? Cadê as risadas e danadices de Lu? Cadê Anhia sentadinha na varanda mesmo perto da meia-noite, lendo, porque adorava a paz daqui de casa? Falei pra Roberto que agora, mais que nunca, eu entendia porque a senhora passava seu aniversário e o Natal aqui, mas ia embora logo no dia 26. A senhora queria ir pra feira e arrumar a casa pra nos receber, aos montes, para passar o final do ano. Era o momento de ter o ninho cheio de novo. Um ninho que esvaziara quando todos nós, do Roseiral, tomamos nosso rumo.

Aninha, Cida e eu, que moramos em Salvador, fizemos um Natal antecipado no dia do seu aniversário terreno, mamãe. Olha nós aqui do lado. Ficamos muito felizes por conseguirmos nos encontrar, as três, depois de quase dois anos. O medo do vírus nos mantinha em nossas casas e, no máximo, as vi separadamente. 

Nossa família sempre foi diferente nisso, né? Nosso Réveillon parece um Natal. Na verdade, isso também perdeu um pouco do brilho. Esse período, já alguns anos da sua partida, mamãe, já me deixava meio triste. Eu já não conseguia, facilmente, fazer com que o senhor, papai, fosse nos ver depois da  missa. Desculpe, não o estou acusando, viu? Eu sei que o senhor não tinha mais a mesma autonomia depois que perdeu a visão. Falei apenas para dizer que sempre sentimos sua falta. E depois de 2014, mais ainda, pois Deus chamou mamãe antes. E é natural que queiramos estar perto de quem amamos, né? Sim, sempre o amamos, papai. Sempre. Sei que fiquei brava algumas vezes, mas nunca deixei de amá-lo. Minha brabeza era por não ter o senhor do meu lado. Mas disso falaremos depois. Sobre o amor que temos com senhora, mamãe, acho que nunca houve dúvidas da sua parte, né? 

Ah! Neste ano irei abraçar a parte do Roseiral que está em Paulo Afonso e em Xingó. 

Mesmo com chuva e com a pandemia, este ano parte da família de Roberto vai se reunir nesta noite de Natal. A não ser que desistam por causa da chuva. Uma festa que já aconteceu com quase 50 pessoas, como a senhora bem sabe, mamãe, vai reunir apenas 18. Fiquem tranquilos. Todos que estarão lá estão vacinados contra a Covid-19 com as duas doses e pelo menos metade de nós já com a dose de reforço. Claro que não poderemos, ou pelo menos não devemos, nos abraçar como eu gosto. Vocês dois bem sabem que sou dessas pessoas que adora abraçar e beijar. Mas os tempos atuais exigem mais cuidados. Só as crianças não foram vacinadas ainda. Tá rolando até uma confusão, porque a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a vacina para crianças de 5 a 11 anos. Mas o  Ministério da Saúde é contra. 

Sabe, eu disse a Roberto que queria muito que vocês estivessem aqui conosco, neste lado do caminho. Aí ele me disse que, com esta pandemia, seria bem complicado. Que a senhora, mamãe, que gostava de viajar e de passear, de fazer suas comprinhas, ia ficar muito aflita. E triste. Sei que ele tem razão. Mais que tudo, não somos nós quem decidimos quem volta e quem fica. Então, não vou mais querer isso. Mas não tenho como controlar a saudade, que aumenta por causa dessa comunicação que é muda daí pra cá. Claro que algumas vezes recebemos notícias por meio de Barbosa, que diz não saber como, mas volta e meia encontra com vocês. Também recebemos notícias pela equipe do Cecem, aquele centro maravilhoso lá de Paulo Afonso. E pelos sonhos que algumas do Roseiral conseguem lembrar. Os meus quase nunca lembro.

Meus queridos, coloquei a caixinha com a foto de vocês dois no meu presépio. A mesma foto que coloquei na abertura dessa cartinha. Ele também tem uma lavadeira e dois nordestinos em seus burrinhos, além de Nossa Senhora e São José, dos reis magos e do anjo Gabriel. Vamos todos homenagear Jesus, pedindo a ele que abençoe a cada um de nós, seja do Roseiral, seja de outras famílias (muitas tristes neste Natal por causa das perdas que tiveram pela Covid e pelas chuvas intensas).

Estamos longe, Mas nosso amor nos faz perto. Sempre. Este laço invisível é infinito e une a todos nós do Roseiral. A minha saudade é a saudade dos seus outros filhos, dos seus netos e bisnetos. Recebam meu amor e minha gratidão. Se em algum momento sentirem que estou triste, ou alguém do Roseiral está triste, não se entristeçam nem se aflijam. Apenas recebam a saudade, a gratidão e o beijo enviado diariamente. 

Que aí no céu vocês permaneçam cada vez mais fortes, cada vez mais em paz. Que nos abençoem também. 

Amo você, mamãe. Amo você, papai. Feliz Natal! Abracem por nós a parte da nossa família que já retornou ao lar espiritual. Fiquem com Deus.

 

Da sua filha tagarela,

Vanda.

 



3 comentários:

  1. Eu sempre fui a pessoa que neste momento de natal me dá melancolia e há sete anos que tudo é diferente, até às discussões.kkkk. viu mamãe, viu papai, sintam nosso amor de sempre. Mamãe já viu minhas filhas de quatro patas, um amor, meus amores incondicionais. Você iria amar minhas meninas, Nikita e Salomé. Que Deus nos abençoe cá e abençoe e cuide de vocês também, até nosso encontro.

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    1. Nikka e Salomé trouxeram um brilho para o lar de Toca, mamãe e papai.

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