Adeus com saudade ao nosso pé de manga

Oi, mamãe.

Tudo bem por aí? Desejo que esteja bem e em paz. Por aqui seguimos na caminhada. Alguns dias muito felizes, outros dias apenas felizes e em outros apenas caminhando. Creio que tem sido assim para todos nós e não apenas para o seu Roseiral e para a grande extensão dele.

Esse mundo aqui de encarnados sempre foi muito doido, mas parece que desde a pandemia da Covid-19, em 2020,tudo parece sem controle. Muitas pessoas estão mais intolerantes, agressivas, violentas... É tão triste acompanhar noticiários, sabia? Dá uma aflição danada. Tenho pedido muito a Deus para olhar por todos nós e que nos proteja de nós mesmos. Quando converso com Deus, do meu jeito, sinto-me alimentada por esperança que tudo vai ficar bem. Mas às vezes fico insegura, confesso.

Acho que todo mundo deveria fazer um inventário da própria vida, como eu sugeria à senhora para fazer quando estava percebendo sua tristeza. Outro dia assisti a uma série muito interessante, que aborda a saúde mental a partir da perspectiva de uma enfermeira psiquiátrica lá da Coreia do Sul, país da Ásia Oriental. O nome é Uma dose diária de sol. Em um dos episódios a psiquiatra orienta a paciente a fazer uma autobiografia para identificar o que a faz mais feliz ou menos feliz e tentar mudar. 

Eu tenho consciência que sou uma pessoa muito abençoada. Isso desde que nasci do seu ventre e cresci em um lar com tantos irmãos. Tenho um amor que me corresponde, que é companheiro. Tenho um filho que não veio do meu ventre, mas se instalou desde logo em meu coração. Recebi um neto lindo, divertido e criativo em nossas vidas. Tenho o Roseiral, emprego, onde morar... Viajo com constância para alimentar a minha sede e a de Roberto de conhecer o mundo. 

Desde o seu regresso ao lar espiritual e, posteriormente o de papai, sinto saudade de reunir a nossa família no final do ano como sempre foi tradição em nossa família. Há muito tempo não conseguimos reunir nem metade dos 11. Sei, e tento entender, que todos, ao constituírem suas próprias famílias, enfrentam seus próprios desafios e nem sempre é possível atender ao chamado da saudade das irmãs e dos irmãos. Até nossas chamadas de vídeo são mais raras. 

Mas a senhora sabe como sou. Nunca desisto. Volta e meia chamo todo mundo de surpresa. Da última vez conseguimos trazer sete ou oito. Daí, quando nos encontramos, todo mundo ri, fala ao mesmo tempo... Igual quando estávamos juntos em nossa casa em Paulo Afonso, na varanda ou em uma grande mesa debaixo do pé de manga.

Um dos momentos em que fiquei triste foi ao ver a foto do nosso pé de manga caído, seco. Um fungo tem matado muitas das mangueiras lá em Paulo Afonso e até em Salvador. Li que por Alagoas também. Em uma daquelas ventanias, que eram mais comuns em janeiro, nosso querido pé de manga não resistiu e partiu ao meio, arriando defronte a casinha de Tinho. Ao ver a foto que Verinha mandou meu peito se encheu de tristeza. Foram mais de 40 anos de sombra, de mangas deliciosas, de jogos de dominó embaixo dele. 

Vieram na mente nossos Réveillons naquela casa, debaixo daquela mangueira linda e frondosa. E o medo de mangas caírem em nossa cabeça? Ele presenciou tantas histórias ali compartilhadas nos churrascos e até quando lavávamos roupa ou os carros pertinho dela. Ele viu nossas crianças correrem desembestadas pelo quintal e pularem na piscina.




Lembrei-me de como nosso querido pé de manga sofreu quando a água já não corria livremente pela piscina e por nossas torneiras, sem custo. Com as mudanças na CHESF já não havia tanta água pra alimentá-lo, pois a água deixou de ser gratuita e se tornou muito cara. Ele sentiu a mesma sede que muitas famílias do nosso sertão, que dependem de carros-pipas. Suas raízes, fortes e corajosas, suspenderam o piso de cimento como se dissessem que precisavam de água. A quantidade de mangas, pouco a pouco, foi diminuindo. A imunidade dele foi fragilizando e infelizmente, suas raízes e troncos foram atingidos cruel e impiedosamente por uma praga que coloca um fungo. Perdeu as folhas e frutos até que a ventania forte o dobrou ao meio.


A foto vai mostrar o quintal da nossa casa, da sua casa aqui na terra, ainda mais vazio. Mas vamos buscar plantar um novo, em homenagem à linda história do nosso pé de manga, à  linda história de amor do Roseiral. 

Desejo que nosso Roseiral permaneça, sem esforço, com os laços que nos unem fortes, mesmo que nossos encontros agora ocorrem mais de forma remota, por celulares, tabletes ou computadores. O importante é acontecerem.

Mamãe, eu a amo desde sempre e para sempre. Creio que de outras vidas, nesta vida e em outras que virão. Um amor que se estende a cada um dos seus filhos, netos e bisnetos. Que sua benção nos alcance sempre, ao tempo em que recebe meu abraço de caranguejo, meu amor, minha saudade e minha gratidão.

Da sua filha tagarela.

Vanda.

Comentários

  1. Quando fui em Paulo Afonso no meio do ano de 3023, pé de manga ja estava morto, fiquei muito triste, agora a natureza só derrubou, é muito desolador ver como com se encontra.

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    1. Li que essa praga é miserável. Ela ataca por cima, na copa da árvores, e inocula um fundo que vai bloqueando a seiva.

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    2. Prefiro lembrar de quando estava tudo tão lindo que parecia que aquele lugar tinha mágica. Aquela casa é palco dos meus melhores sonhos. Ass: Nice

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    3. Melhor mesmo procurarmos lembrar como tudo era lindo.

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  2. Linda sua cartinha irmã 😍!!!! acredito que todos nós do Roseiral e amigos que vivenciaram a vida do pé de manga tenha sentido e vão sentir saudades de uma árvore tão linda e tão frutífera , que nos proporcionou momentos ímpares enquanto vida teve, mas sabemos também que todos tem o seu tempo e as árvores também. Então, mesmo com muita saudade e dor por termos perdido essa linda árvore que nos proporcionou tanto, agradecer a Deus por ter permitido termos tido uma árvore de tão importância foi na vida de todos nós . Em breve estaremos plantando uma nova mangueira que irá proporcionar novas alegrias a todos nós.

    Com ❤️ Vera Amorim.

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  3. Sem palavras irmã!! Toda sua escrita vem de uma saudade tão imensa, de um sentimento de amor de tanta nobreza, que ficou sem palavras...seguiremos juntos e tentaremos criar novas histórias com esse lindo roseiral!!🌹😘 - Cida

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  4. Muito triste mesmo. São tantas lembranças. 😢 (Giovanna)

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  5. Essa mangueira é mais um ícone do lar Amorim 🌳Fiquei muito triste com a dezena de árvores que tombaram. Precisamos repovoar os espaços. amenizar o calor (Nadja)

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    1. E combater essa praga, senão todas as mangueiras morrerão afetadas por ela.

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  6. Senti essa mesma tristeza, amiga, quando o meu morreu no ano passado.😢(Lena)

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    1. Essa praga tem que ser contida, senão todas as mangueiras de Paulo Afonso vão sucumbir.

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  7. Senti de chorar só com uma pode mal feita num pé de Juá, imagina pela morte! Arranje uma muda, caroços dela, e plante logo outra, Vandinha! ❤️🙌🏻 (Liliana Peixinho)

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    1. Não temos como pegar caroços dela. Terá que ser uma nova mesmo.

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  8. Não acredito... que pena, amiga. Lembro muito bem (Aninha Xavier)

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