Oi, mamãe
Desejo que esta cartinha a encontre em paz. Peço sua benção, sempre fundamental em minha vida, e desculpas por tanto tempo sem enviar uma cartinha para a senhora. Mas espero que tenha sentido todas as vezes em que emano minha saudade, meu amor e minha gratidão.
Desde a última cartinha ao céu muita coisa aconteceu. Muitos desafios têm sido enfrentados pelas rosas e cravos do seu Roseiral e por vários dos botões de flores, netos e bisnetos seus. Procuramos, contudo, nos manter unidos, apoiando uns aos outros, principalmente quando o desafio envolve a saúde. Como acredito ser verdade que os laços de amor permanecem mesmo que as pessoas estejam em lados diferentes do caminho, certamente a senhora sabe o que acontece com cada um dos seus filhos e filhas amadas. Assim, não preciso entrar em detalhes.
Às vezes o nosso grupo de whatsapp fica muito silencioso e fico me sentindo sozinha. Provavelmente todos se sentem assim em algum momento, mas poucos externam isso. Daí, com meu bocão, reclamo e faço "chamada", quase exigindo que cada um mande uma foto do momento. Mas não é só no zap. A senhora sabe que solidão e saudade sentimos mesmo quando estamos perto, na mesma cidade, né. Aqui em Salvador somos três irmãs, mas nem sempre conseguimos nos ver como queremos. Pelo menos não as três juntas, principalmente por causa da escala de trabalho de Cida. Procuramos compensar nos falando por telefone, chamada de vídeo ou mensagens.
Mamãe, uma nova pessoinha chegou em nossas vidas. Bruna e Kaká finalmente receberam a benção de mais um filho. Ou melhor, uma filhinha, Giulia, que nasceu em 19 de agosto desse ano. Assim, Roberto e eu somos agora avós de dois. Estamos muito felizes. Leon não consegue conter a euforia e o amor que tem pela irmãzinha. Ele diz que Giulia é uma fofurinha. E é mesmo. Que sua benção alcance também essa bisneta.Em relação ao trabalho, desde março deste ano que estou fora do mercado de trabalho. A nova gestão da empresa achou que meus serviços não eram mais necessários. É assim quando não somos concursados e ocupamos cargos comissionados. Os novos gestores, comumente, têm pessoas a nomear. Mas saí com a certeza que ao longo dos últimos 10 anos sempre dei o melhor de mim e que muito contribuí com a Instituição com meu conhecimento e minha dedicação, seja como coordenadora de Comunicação, seja como assessora de Captação de Recursos - última função ocupada ali.
Como herdei de Nilton Amorim o prazer pelo trabalho, estou buscando relocação e espero que a minha experiência e competência comprovadas se sobreponham à idade. Mas sei que o idadismo ou etarismo está ainda muito forte. Ah, a senhora não sabe o que é isso? É como chama agora quando o mercado de trabalho deixa que a idade seja principal requisito de recusa, principalmente para quem está no grupo 50+ (que significa pessoas acima de cinquenta anos de idade). Aninha, nossa meiga galeguinha, sabe bem disso, pois está na busca de reinserção no mercado a algum tempo e já ouviu de recrutador que a empresa prefere pessoas mais jovens. Mas nós duas temos fé e acreditamos que Deus nos reserva um bom trabalho.
Enquanto não tenho novo emprego aproveito para colocar em dia meus projetos de livros, meus blogs e minhas cartinhas para o céu, como esta. Não consigo ficar parada. Mas tenho aproveitado também para fazer caminhadas com Roberto e brincar com Leon, principalmente desenhar com esse seu bisneto elétrico e criativo.
Mamãe, há um mês nos reunimos para celebrar os 70 anos da sua primogênita, Tata. Foi lindo, não foi? Viu como ela ficou emocionada com o livrinho de poesias que editei com poemas que ela escreveu anos atrás? Sei que a senhora esteve lá, assim como esteve aqui em minha casa no final de julho, quando Lu passou por aqui com Irla e Íris para irmos juntas para o aniversário. Sentimos o seu cheirinho e ficamos emocionadas.Que cada um do Roseiral que tem uma saudade permanente instalada no coração possa ser contemplado com a sua visita, anunciada por um cheirinho de lavanda, e que sua benção alcance a todos nós, mamãe. Tenho até uma sugestão: visite Tinho, o seu primeiro filho homem. Deixe-o sentir sua presença e que isto alivie a solidão que vivencia. Esse presente nos diz que os nossos laços de amor permanecem atados e nos fortalece em nossa caminhada.
Eu amo você, Mariquinha. Ao despedir-me fecho os olhos e estendo os braços para receber o seu abraço. Depois de lhe dar meu abraço de caranguejo, massageando suas costas, toco em seu rosto pequeno, olho em seus olhos negros e beijo um e depois o outro olho. Fico emocionada com o seu sorrisinho e a vejo desvanecer lentamente, retornando ao seu lar espiritual. Fico em paz pois sei que nos encontraremos depois. Que a senhora também fique em paz.
Da sua filha que tanto a ama,
Vanda.
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