segunda-feira, 1 de setembro de 2025

A saudade que permanece em meu coração

 


Oi, mamãe


Desejo que esta cartinha a encontre em paz. Peço sua benção, sempre fundamental em minha vida, e desculpas por tanto tempo sem enviar uma cartinha para a senhora. Mas espero que tenha sentido todas as vezes em que emano minha saudade, meu amor e minha gratidão.

Desde a última cartinha ao céu muita coisa aconteceu. Muitos desafios têm sido enfrentados pelas rosas e cravos do seu Roseiral e por vários dos botões de flores, netos e bisnetos seus. Procuramos, contudo, nos manter unidos, apoiando uns aos outros, principalmente quando o desafio envolve a saúde. Como acredito ser verdade que os laços de amor permanecem mesmo que as pessoas estejam em lados diferentes do caminho, certamente a senhora sabe o que acontece com cada um dos seus filhos e filhas amadas. Assim, não preciso entrar em detalhes.

Às vezes o nosso grupo de whatsapp fica muito silencioso e fico me sentindo sozinha. Provavelmente todos se sentem assim em algum momento, mas poucos externam isso. Daí, com meu bocão, reclamo e faço "chamada", quase exigindo que cada um mande uma foto do momento. Mas não é só no zap. A senhora sabe que solidão e saudade sentimos mesmo quando estamos perto, na mesma cidade, né. Aqui em Salvador somos três irmãs, mas nem sempre conseguimos nos ver como queremos. Pelo menos não as três juntas, principalmente por causa da escala de trabalho de Cida. Procuramos compensar nos falando por telefone, chamada de vídeo ou mensagens.

Mamãe, uma nova pessoinha chegou em nossas vidas. Bruna e Kaká finalmente receberam a benção de mais um filho. Ou melhor, uma filhinha, Giulia, que nasceu em 19 de agosto desse ano. Assim, Roberto e eu somos agora avós de dois. Estamos muito felizes. Leon não consegue conter a euforia e o amor que tem pela irmãzinha. Ele diz que Giulia é uma fofurinha. E é mesmo. Que sua benção alcance também essa bisneta.

Em relação ao trabalho, desde março deste ano que estou fora do mercado de trabalho. A nova gestão da empresa achou que meus serviços não eram mais necessários. É assim quando não somos concursados e ocupamos cargos comissionados. Os novos gestores, comumente, têm pessoas a nomear. Mas saí com a certeza que ao longo dos últimos 10 anos sempre dei o melhor de mim e que muito contribuí com a Instituição com meu conhecimento e minha dedicação, seja como coordenadora de Comunicação, seja como assessora de Captação de Recursos - última função ocupada ali.

Como herdei de Nilton Amorim o prazer pelo trabalho, estou buscando relocação e espero que a minha experiência e competência comprovadas se sobreponham à idade. Mas sei que o idadismo ou etarismo está ainda muito forte. Ah, a senhora não sabe o que é isso? É como chama agora quando o mercado de trabalho deixa que a idade seja principal requisito de recusa, principalmente para quem está no grupo 50+ (que significa pessoas acima de cinquenta anos de idade). Aninha, nossa meiga galeguinha, sabe bem disso, pois está na busca de reinserção no mercado a algum tempo e já ouviu de recrutador que a empresa prefere pessoas mais jovens. Mas nós duas temos fé e acreditamos que Deus nos reserva um bom trabalho.

Enquanto não tenho novo emprego aproveito para colocar em dia meus projetos de livros, meus blogs e minhas cartinhas para o céu, como esta. Não consigo ficar parada. Mas tenho aproveitado também para fazer caminhadas com Roberto e brincar com Leon, principalmente desenhar com esse seu bisneto elétrico e criativo.

Mamãe, há um mês nos reunimos para celebrar os 70 anos da sua primogênita, Tata. Foi lindo, não foi? Viu como ela ficou emocionada com o livrinho de poesias que editei com poemas que ela escreveu anos atrás? Sei que a senhora esteve lá, assim como esteve aqui em minha casa no final de julho, quando Lu passou por aqui com Irla e Íris para irmos juntas para o aniversário. Sentimos o seu cheirinho e ficamos emocionadas.

Algumas pessoas podem não entender essa nossa conversa de visita espiritual, pois acreditam que a vida de um espírito acaba com a morte física. Mas nós pensamos diferente e sabemos que a vida prossegue sem a carne. E por amor, as visitas podem acontecer. Somos gratas a Deus por essa oportunidade. 

Que cada um do Roseiral que tem uma saudade permanente instalada no coração possa ser contemplado com a sua visita, anunciada por um cheirinho de lavanda, e que sua benção alcance a todos nós, mamãe. Tenho até uma sugestão: visite Tinho, o seu primeiro filho homem. Deixe-o sentir sua presença e que isto alivie a solidão que vivencia. Esse presente nos diz que os nossos laços de amor permanecem atados e nos fortalece em nossa caminhada.

Eu amo você, Mariquinha. Ao despedir-me fecho os olhos e estendo os braços para receber o seu abraço. Depois de lhe dar meu abraço de caranguejo, massageando suas costas, toco em seu rosto pequeno, olho em seus olhos negros e beijo um e depois o outro olho. Fico emocionada com o seu sorrisinho e a vejo desvanecer lentamente, retornando ao seu lar espiritual. Fico em paz pois sei que nos encontraremos depois. Que a senhora também fique em paz.

Da sua filha que tanto a ama,

Vanda. 

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Meu pai fez aniversário no céu

 


Querido papai

Neste ano de 2025 o Dia dos Pais (10/08) não coincidiu com o dia do seu aniversário (12/08), que marca um dia de muita saudade para todos nós que o amamos e continuamos a caminhada. Não tivesse seguido para o outro lado do caminho, hoje o senhor estaria celebrando 92 anos. Mas há 8 anos o senhor foi chamado de volta ao lar espiritual pelo Criador, que tem seu próprio tempo.

Nesses oito anos tanta coisa mudou, tanta coisa aconteceu. Chegaram pelo menos 10 novas pessoinhas em nossas famílias: oito netas/os e um bisneto. Mais pessoas queridas seguiram para o outro lado do caminho. É a renovação natural do mundo, fazendo com que a roda do tempo continue girando.

Alguns de nós, nesse período de sua ausência física, passou a enfrentar grandes desafios para garantir a saúde, o trabalho, a vida em si. Mas todos vivenciando a experiência de bençãos diárias da espiritualidade que, sem dúvida alguma, se somam às bençãos lançadas sobre nós pelo senhor, que nunca deixou um filho sem amparo.

Sinto sua falta, papai. O senhor sabe, aliás, que não apenas eu sinto, mas todos os que descedem da sua vida. Gostaria que erstivesse ao meu lado para lhe falar das minhas experiências pelo mundo ao lado de Roberto, dos meus projetos editoriais, da minha neta Giulia que está pra chegar ainda neste mes de agosto. Gostaria de trocar umas ideias sobre a política, sobre tudo que a vida hoje nos joga nos peitos.

A minha mais recente caminhada pelo mundo adentrou pelo Oriente, percorrendo alguns cantos da Tailândia, China e Japão. A aventura mais distante que já tivemos. Vimos que na Tailândia tem praias lindas, mas que as praias do Brasil são tão ou mais lindas que algumas delas. Ali conhecemos um pouco do Budismo e conferimos os lindos templos. Na China constatamos que, apesar de ser governada pelo Partido Comunista, o país, pelo menos nas duas cidades em que estivemos - Pequim e Chongqing, mostra-se empenhado no desenvolvimento econômico e na modernização. E no Japão ficamos impressionados também com o desenvolvimento e a cultura de organização e educação do povo. Culturas muito diferentes. Se já aprendi a falar tailandês, japonês ou mandarim? Não. Não consegui essa proeza. Não ainda. Quem sabe, né? Usamos tradutor online, uma das vantagens da tecnologia. 

Ah, sabe aquela história que tem desde que eu era adolescente e algumas pessoas diziam que eu parecia uma japonesa? Pois constatei que não. Depois de visitarmos duas das maiores cidades da China (Chongqing e Pequim) e três do Japão (Osaka, Quioto e Tóquio), Roberto e eu consideramos que tenho mais traços do povo chinês. Já mamãe lembra muito as senhoras japonesas, de cabelo curto e escuro, com os olhinhos pequenos. Vou deixar uma foto aqui pra o senhor me ver com uma chinesa. 

Papai, não estou mais na Defensoria e por enquanto não estou com outro trabalho fixo. Mas estou fazendo contatos para retomar as atividades laborais externas. Certamente puxei ao senhor, que nunca parou, mesmo depois de se aposentar e de perder a visão. Torço para que a minha experiência profissional vença o idadismo, por eu fazer parte do grupo 60+. Pretendo, contudo, alcançar um que não ocupe todo o meu tempo. Quero continuar a escrever e a curtir mais momentos com minha família. Aliás, minhas famílias. Acho isso muito importante, pois já me ausentei de todos ao longo dos últimos 10 anos, quando dediquei meu conhecimento à Defensoria como forma de contribuir para que mais pessoas tivessem acesso aos serviços da instituição, que é a responsável pelo acesso gratuito à justiça.

Papai, daqui agradeço a Deus por todos os 55 anos em que caminhamos juntos, encarnados, como pai e filha. Mesmo que esta cartinha seja um monólogo, sinto-me como se estivesse ao seu lado, conversando como tanto fizemos desde que me tornei adulta.

Peço sua benção e desejo que esteja bem e em paz aí no outro lado do caminho. Vou ficando por aqui com muita saudade. 

Da sua filha que tanto o ama,

Vanda.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Cuide dos laços de amor: em um piscar de olhos a vida passa

Oi, tio Mariano

Tudo bem? Num piscar de olhos já se passaram três anos desde o seu retorno ao lar espiritual. Refletindo aqui, vejo que nossa vida teve muitas mudanças que aconteceram em um piscar de olhos, sem que nos déssemos conta.

De criança a adolescente pareceu uma eternidade, mas foi num piscar de olhos, acompanhado de perto pelo senhor. As idas à sua casa, com a sua amada Menininha, foram diminuindo. É que, num piscar de olhos nós - a família do seu irmão Nilton - fomos envolvidos em um turbilhão de sentimentos: frustração, desilusão, mágoa... Sentimentos comuns quando a família não tem mais a exclusividade do pai. Mas o senhor continuou ali disponível com seu amor, carinho e respeito.

Em uma fase muito próxima a essa piscada, me apaixonei pela primeira vez. Recordo-me da sua surpresa e seu cuidado ao parar um carro com placa de Salvador na Guarita Principal de acesso à Vila da Chesf, onde estava trabalhando como membro da Guarda da Chesf, e descobrir que era o meu namorado querendo me visitar em nossa casa na rua L. Num piscar de olhos esse namoro foi interrompido por 10 anos e retomado desde 1989, sem novas interrupções e com um amo construído e consolidado.

Apesar do seu amor disponível, acho que a maioria dos filhos de Nicinha se afastou do senhor, que corretamente não julgou nem se afastou do seu irmão. Como adulta entendo que nosso sentimento de abandono do tio querido foi um equívoco. Mas isso acontece quando deixamos o nosso coração se encher de mágoa, né? Importante dizer também que nunca deixamos de o amar, assim como sempre amamos intensamente o nosso pai.

Num piscar de olhos fui morar no Recife, levada por Toca (Vitorinha) para me preparar para o vestibular e tentar realizar o sonho de ser jornalista. Papai foi contra, não sei se o senhor lembra. E nas vindas a Paulo Afonso o visitava. Amava seu abraço carinhoso e a atenção que me dava, mesmo quando eu interrompia o conserto de algum rádio que estava fazendo.

Voltei seis anos depois, jornalista de fato e de direito havia dois anos, com diploma, orgulhosa. E seu orgulho era igual ao meu. Mas, em novas piscadas de olhos, fui para Teixeira de Freitas, voltei e depois fui para Salvador, em 1989, onde me assentei depois de reencontrar aquele amor que o senhor quis barrar na guarita em 1979. Um amor como o seu com Menininha: companheiro, cúmplice, intenso e leal.

Num piscar de olhos o senhor saiu da Bahia para Alagoas, seu estado natal, e fez morada em Arapiraca. E a partir daí nos perdemos um pouco. Os contatos se restringiam a mensagens no Whatsapp. Nos nossos corres não fui ao seu encontro e quando o senhor ia a Paulo Afonso eu não estava. Fomos nos afastando sem que eu me desse conta.

Então, num piscar de olhos soube que o senhor estava doente por acaso, ao falar com Binha, uma das queridas irmãs trazidas por papai do seu segundo casamento.  Confesso aqui, tio Mariano, que fiquei aturdida ao saber da gravidade. E fiquei magoada por nenhum dos filhos de mamãe saber do que se passava. A mágoa lá de trás voltou forte: fomos excluídos e esquecidos, pensamos.

O novo piscar de olhos foi mais doloroso: em menos de 24 horas desde que soube da sua enfermidade, o senhor partiu sem que eu tivesse ouvido sua voz pela última vez. Partiu sem ver o livro que publiquei, com poesias que escrevi para o meu amor, Roberto.

Só agora, três anos desde o seu desencarne, sento-me para escrever essa cartinha e enviá-la ao céu, para o senhor. No coração não tenho mágoa. Tenho saudade. Ficou o aprendizado da importância de ficarmos mais atentos aos laços de amor criados desde que nascemos para que não se rompam num piscar de olhos. Hoje sinto, e sei, que sempre estive em seu coração, assim como esteve e está no meu. Aliás, estivemos, nós, filhos de Nilton, sem distinção.

Desde 2022 o senhor está em nova morada e em um corpo espiritual. Como católico fervoroso e praticante, certamente via o pós-morte diferente de mim. O senhor acredita na ressurreição (volta ao mesmo corpo, mesmo após a morte, como ocorreu com Jesus Cristo). Eu acredito na reencarnação (retorno à vida em outro corpo). Engraçado que nunca falamos sobre isso enquanto estava aqui, encarnado. Acho que em respeito à crença um do outro. Independentemente do que acreditava ser o lar espiritual, só o senhor sabe da sua realidade, que desejo ser de paz, de reencontros e de reflexão. O aprendizado deve ser constante para a evolução espiritual, né?

Meu tio querido, de onde estiver, me perdoe pelas ausências, me envie sua benção e receba meu amor, minha gratidão e minha saudade.

Da sua sobrinha Vanda.

terça-feira, 4 de junho de 2024

O vazio da sua ausência me enche de saudade

 

Querido papai

 

Hoje amanheci lenta. O senhor sabe que não sou assim. Ao contrário, sou elétrica desde o acordar. Mas acordei desse jeito e nem estava chovendo. Tomei café com Roberto e depois fui para o trabalho, mesmo sem muita vontade. Fiquei me perguntando o que eu tinha. Afinal, não era sono, pois eu tinha dormido bem. Devo ter sonhado, mas não lembro o quê.

Já no trabalho, ao olhar a data na tela do computador entendi o que estava acontecendo. Era uma moleza, um vazio motivado pela saudade. O vazio criado  por não ouvir sua voz grave, sempre com bom humor. Um vazio aberto há sete anos, quando o senhor foi chamado pelo Pai Celestial para se despir das vestes carnais e regressar ao lar espiritual. Acredito que suas outras 13 filhas e seus três  filhos devem sentir hoje o mesmo que eu, tão grande é o nosso amor pelo senhor.

Não tenho, com frequência, a bênção de um encontro com o senhor, mesmo que em sonho. Há muito tempo isso não acontece, o que faz a presença do vazio da sua ausência física ficar ainda mais intensa.

Quase todos os dias falo com o senhor e com mamãe por meio da foto de vocês dois. Oro por vocês e declaro meu amor, minha saudade e minha gratidão. Não sei como vocês recebem essa mensagem aí onde estão. Também não sei como estão, pois o que faço é só um monólogo de saudade, de uma grande saudade, tal qual esta cartinha que envio ao céu. Concentro-me para tentar sentir o calor do seu abraço, de ouvir sua risada vigorosa e grave, mas nem sempre tenho retorno. Alimento-me, então, da fé, de uma certeza que não sei explicar,  sobre vocês estarem bem, mesmo que sintam saudade de todos nós.

Olha, faço questão de ressaltar que, apesar do vazio e da lentidão de hoje, não sinto dor pela saudade. É uma saudade grande, complexa, mas sem dor. Sinto saudade das vezes que conversamos sobre amor e até das inúmeras conversas acaloradas sobre política. Conversas que aconteciam só entre mim e você. O barulho da chuva no telhado agora à noite contribui para esse clima saudoso que se instalou hoje em meu coração. Desejo que a sua saudade, papai, certamente acentuada hoje, no dia do seu renascimento espiritual, também seja indolor.

A roda da vida segue por aqui. A sua primogênita, Fátima, a quem teve com menos de 24 anos, prossegue cercada de bênçãos, caminhando para a cura. O mesmo com seu filho Roberto, que há quase cinco anos perdeu os movimentos das pernas em acidente. A vida tem sido de aprendizado para eles e para todos nós. E a vida continua nos presenteando com novos companheiros de caminhada. Desta vez quem chegou foi Anthony Miguel, filho de Everton e a esposa Camila. Sim, Everton é o pequeno corredor filho de Evanice e neto da nossa neguinha Vania e de Erivelton. Ele agora é pai de um lindo garotinho.

Mas o giro dessa roda também nos levou pessoas queridas, a exemplo de Renato de Binha. Mas creio que dessa partida o senhor já tem conhecimento. Só não sei se vocês já tiveram algum encontro por aí. Essa mudança brusca do lar físico para o lar espiritual por Renato foi um baque pra Binha e a família. Mas ela está consciente que a missão dela ainda não está cumprida e que tem que prosseguir, mesmo com saudade do amor da sua vida.

Hoje minha carta não é longa, embora em minha mente estejam passando flashes dos nossos encontros e desencontros. Eles foram muitos. Tanto de um quanto do outro. Pudesse eu teria feito com que só tivessem acontecido os encontros, mas nem sempre conseguimos fazer só o que queremos, né? Lembro-me de o senhor ter me dito isso várias vezes.

Como sempre, envio essa carta ao outro lado do caminho, mas sei que, já ao escrevê-la, com meu amor e minha mente consigo plasmá-la para chegar mais rápido até o senhor.

Papai, vamos manter-nos conectados pelo fio invisível desse amor que nos une, que o une a todos os seus filhos, netos, bisnetos (e agora trineto).

Eu o amo desde sempre e para sempre, papai. Fique em paz. Aqui também buscaremos ficar bem, até o momento do nosso regresso, do nosso reencontro, que Deus há de permitir.

Da sua filha saudosa,

Vanda.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Adeus com saudade ao nosso pé de manga

Oi, mamãe.

Tudo bem por aí? Desejo que esteja bem e em paz. Por aqui seguimos na caminhada. Alguns dias muito felizes, outros dias apenas felizes e em outros apenas caminhando. Creio que tem sido assim para todos nós e não apenas para o seu Roseiral e para a grande extensão dele.

Esse mundo aqui de encarnados sempre foi muito doido, mas parece que desde a pandemia da Covid-19, em 2020,tudo parece sem controle. Muitas pessoas estão mais intolerantes, agressivas, violentas... É tão triste acompanhar noticiários, sabia? Dá uma aflição danada. Tenho pedido muito a Deus para olhar por todos nós e que nos proteja de nós mesmos. Quando converso com Deus, do meu jeito, sinto-me alimentada por esperança que tudo vai ficar bem. Mas às vezes fico insegura, confesso.

Acho que todo mundo deveria fazer um inventário da própria vida, como eu sugeria à senhora para fazer quando estava percebendo sua tristeza. Outro dia assisti a uma série muito interessante, que aborda a saúde mental a partir da perspectiva de uma enfermeira psiquiátrica lá da Coreia do Sul, país da Ásia Oriental. O nome é Uma dose diária de sol. Em um dos episódios a psiquiatra orienta a paciente a fazer uma autobiografia para identificar o que a faz mais feliz ou menos feliz e tentar mudar. 

Eu tenho consciência que sou uma pessoa muito abençoada. Isso desde que nasci do seu ventre e cresci em um lar com tantos irmãos. Tenho um amor que me corresponde, que é companheiro. Tenho um filho que não veio do meu ventre, mas se instalou desde logo em meu coração. Recebi um neto lindo, divertido e criativo em nossas vidas. Tenho o Roseiral, emprego, onde morar... Viajo com constância para alimentar a minha sede e a de Roberto de conhecer o mundo. 

Desde o seu regresso ao lar espiritual e, posteriormente o de papai, sinto saudade de reunir a nossa família no final do ano como sempre foi tradição em nossa família. Há muito tempo não conseguimos reunir nem metade dos 11. Sei, e tento entender, que todos, ao constituírem suas próprias famílias, enfrentam seus próprios desafios e nem sempre é possível atender ao chamado da saudade das irmãs e dos irmãos. Até nossas chamadas de vídeo são mais raras. 

Mas a senhora sabe como sou. Nunca desisto. Volta e meia chamo todo mundo de surpresa. Da última vez conseguimos trazer sete ou oito. Daí, quando nos encontramos, todo mundo ri, fala ao mesmo tempo... Igual quando estávamos juntos em nossa casa em Paulo Afonso, na varanda ou em uma grande mesa debaixo do pé de manga.

Um dos momentos em que fiquei triste foi ao ver a foto do nosso pé de manga caído, seco. Um fungo tem matado muitas das mangueiras lá em Paulo Afonso e até em Salvador. Li que por Alagoas também. Em uma daquelas ventanias, que eram mais comuns em janeiro, nosso querido pé de manga não resistiu e partiu ao meio, arriando defronte a casinha de Tinho. Ao ver a foto que Verinha mandou meu peito se encheu de tristeza. Foram mais de 40 anos de sombra, de mangas deliciosas, de jogos de dominó embaixo dele. 

Vieram na mente nossos Réveillons naquela casa, debaixo daquela mangueira linda e frondosa. E o medo de mangas caírem em nossa cabeça? Ele presenciou tantas histórias ali compartilhadas nos churrascos e até quando lavávamos roupa ou os carros pertinho dela. Ele viu nossas crianças correrem desembestadas pelo quintal e pularem na piscina.




Lembrei-me de como nosso querido pé de manga sofreu quando a água já não corria livremente pela piscina e por nossas torneiras, sem custo. Com as mudanças na CHESF já não havia tanta água pra alimentá-lo, pois a água deixou de ser gratuita e se tornou muito cara. Ele sentiu a mesma sede que muitas famílias do nosso sertão, que dependem de carros-pipas. Suas raízes, fortes e corajosas, suspenderam o piso de cimento como se dissessem que precisavam de água. A quantidade de mangas, pouco a pouco, foi diminuindo. A imunidade dele foi fragilizando e infelizmente, suas raízes e troncos foram atingidos cruel e impiedosamente por uma praga que coloca um fungo. Perdeu as folhas e frutos até que a ventania forte o dobrou ao meio.


A foto vai mostrar o quintal da nossa casa, da sua casa aqui na terra, ainda mais vazio. Mas vamos buscar plantar um novo, em homenagem à linda história do nosso pé de manga, à  linda história de amor do Roseiral. 

Desejo que nosso Roseiral permaneça, sem esforço, com os laços que nos unem fortes, mesmo que nossos encontros agora ocorrem mais de forma remota, por celulares, tabletes ou computadores. O importante é acontecerem.

Mamãe, eu a amo desde sempre e para sempre. Creio que de outras vidas, nesta vida e em outras que virão. Um amor que se estende a cada um dos seus filhos, netos e bisnetos. Que sua benção nos alcance sempre, ao tempo em que recebe meu abraço de caranguejo, meu amor, minha saudade e minha gratidão.

Da sua filha tagarela.

Vanda.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Minha mãe é nosso anjo da guarda


Oi, mamãe!

Quanta saudade estou da senhora, mariquinha. Uma saudade imensa, tamanho do universo! Nunca mais a encontrei em meus sonhos, apesar de sempre pedir em minhas conversas com Deus. Mas acho que sei o motivo: a senhora e papai estavam muito dedicados a cuidar dos filhos, mesmo aí do céu, né? Tenho certeza que sim.

É, mamãe. Este ano realmente tem sido muito atribulado. Foram muitos sobressaltos, muita inquietação por causa dos problemas de saúde com alguns do seu roseiral. Mas também foi um ano de muito exercício de fé. Nos unimos e pedimos muito a Deus e a Nossa Senhora para ajudar. E sabíamos, sentíamos, na verdade, que vocês dois estavam ali a postos. Que prova de amor tão linda! 

Como a senhora sabe, nossas preces foram ouvidas e temos muita gratidão a Deus, a Nossa Senhora e a todos os santos a quem rogamos. Tata está bem na casa dela; Tinho está com exames para buscar transplante de rim e Bepe provavelmente não precisará mais fazer hemodiálise. Bepe ainda não alcançou o milagre que almeja e que todos nós do Roseiral também pedimos: a restauração dos seus movimentos. Mas cremos, confiamos e aguardamos. Nada é impossível para Deus. Assim eu penso e tenho certeza que a senhora e papai também pensam igual. 

Aliás, mamãe, o seu roseiral continua abençoado. São muitas as bençãos. Vanessa conseguiu um emprego como o que almejava. Am está trabalhando com educação infantil (imagine essa maluquinha brincando com crianças de 3 anos). Italo finalmente conseguiu mudar de emprego e agora não precisa ficar correndo risco na estrada  por trabalhar  em outra cidade. Sandro finalmente teve o enquadramento que aguardava no governo federal e também vai poder ficar em Paulo Afonso. Victor foi contratado por uma empresa na área de tecnologia, que é a que ele  está investindo agora. Aninha continua investindo em sua formação como coach. E Junior está bem. São inúmeras as bençãos, né? 

Como não ter gratidão a Deus? Como não agradecer à senhora, nosso anjo da guarda? Como não agradecer a papai? Claro, pois juntos vocês têm olhado e intercedido por nós. Em um post na página Espiritismo Brasil Chico Xavier, no Facebook, diz que "os desencarnados nos acompanham, sentem nossas alegrias, procuram nos ajudar em nossas aflições e recebem nossas preces e pensamentos, sendo estes últimos os sinais mais comuns de partilhamento de emoções. Por isso, mesmo não tendo alguém mais conosco no mesmo plano físico de existência, conseguimos nos conectar com aqueles que estão do outro lado da vida". Eu acredito nisso. Os demais do Roseiral também, independentemente da religião que abraçaram.

Mas, mamãe, queria muito saber como a senhora está. Nesses 9 anos e dois meses do seu regresso ao lar espiritual já se acostumou com a vida aí? Ou será que sente muita falta daqui? Na doutrina espírita, segundo li no blog Conteúdo Espírita,  é dito que "a melhor maneira de saber se a pessoa que desencarnou está bem é analisando a forma como ela viveu e quais foram suas obras e sua moral". Então devo ficar tranquila, pois a senhora foi só amor, dedicação, generosidade, caridade, perdão... só fez o bem, começando com seus pais e irmãs e irmãos, com papai, e conosco, seus 11 filhos, netos e bisnetos.

Tem encontrado vovó Minice e vovô Zezinho? E tia Neném, tia Teca e tio Cicinho? Alguma vez encontrou tia Lourinha, que partiu tão cedo? Ou será que ela está reencarnada? Quando encontrar com eles e elas diga que mandei um abraço e que sinto saudade. Mas diga também que sou grata pelos momentos que vivi com cada um deles, viu, inclusive Tenide. 

Estava olhando aqui umas fotos e encontrei essas, que envio para a senhora também matar a saudade aí no céu. Mostre pra papai, tia Neném, vovó Minice e vovô Zezinho, tá?

Minha tia Neném e minha mãe. Nicinha
Seu encontro com tia Neném em minha casa. Lindas!

Vovó Minice e vovô Zezinho com Caca, Val e Evanice, criancinhas.

A senhora e papai com a primogênita amada, Tata.

Depois vou atualizar as fotos dos bisnetos para mandar pra vocês. Henri, de Betinho e Rafaela, fez 1 ano em setembro. Lindo! Estão todos lindos e bem, com saúde e amor, graças a Deus!!

Mamãe, vou ficando por aqui. Receba meu abraço de caranguejo, bem massageado, e beijinhos nos olhos. Te amo. Te amo. Te amo. Te amo.

Sua filha tagarela,

Vanda.



quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Amizade daqui segue no outro lado do caminho


Oi, Romildo


Ei, amigo, como vai? A última vez que mandei uma cartinha foi logo depois que seguiu para o outro lado do caminho, de volta ao lar espiritual. Já se passaram três anos e alguns meses, rapaz. Muito rápido. Não sei se por aí a sensação do passar do tempo é a mesma, mas aqui tá acelerado. 

Queria muito saber de você, apesar de estar consciente que esta cartinha é um monólogo e sem direito assegurado a uma resposta. Mesmo assim vou lhe bombardear com perguntas. Preparado?

Você já conseguiu se libertar das dores que a sua enfermidade causou?

Encontrou seus familiares e amigos que seguiram antes?

O que você faz aí? 

Quando será que você estará zero bala para encarar uma nova encarnação? 

Como assim, reencarnar, deve dizer você. Oxe, amigo, acho que nesse tempo em que você se encontra aí já deve estar consciente que embora sem o corpo, você vive; que dentro de algum tempo poderá reencarnar. Ou será que talvez seja cedo para falar sobre isso?

Romildo, todos nós aqui, do grupo de amigos-vizinhos,  seguimos a recomendação de Santo Agostinho na mensagem sobre o outro lado do caminho. Lembramos de você com saudade, mas sempre damos risadas das lembranças tão boas. Ah, claro que lamentamos que você tenha sido chamado para retornar tão cedo. Se acende uma luzinha, ou soa um alarme, todas as vezes que falamos de você e com você, deve ser uma agitação. Desculpa aí a bagunça.  Mas é assim mesmo quando amamos tanto um amigo que está desse lado aí. 

Entre maio e junho, então,  falamos um bocado de você.  Mas só eu e Roberto, em nossa viagem de férias. Viajamos sozinhos de novo pela Europa. E muita coisa lembrou você e seus comentários. Falamos seu nome e rimos juntos quando falávamos das comidas diferentes. Você dizia que nos outros países os turistas comiam mal porque a comida era muito estranha e cara. E dessa vez a coisa tava cara. Ave Maria! Ficaremos felizes se você tiver sentido nossa vibracao e rido conosco. 

Em mais uma vez o seu amigo-irmão Gato conseguiu programar uma viagem longa, de 35 dias,  por ter um feriado no fim do roteiro. Ele é craque nisso, lembra? Andamos muito. Bota muito nisso. Não batemos ainda o recorde das 12 horas de caminhada de lá de Buenos Aires. A média dessa vez foi oito, com máximo de 9 horas batendo perna pelas ruas. Os recordes foram pra quantidade de locais visitados:  11 cidades em nove países. 

Acho que você ia adorar conhecer Edimburgo, a capital da Escócia. 

Também  bateu recorde os calos em  meus pés. Haja curativos. Ainda bem que encontrei em Londres uma caixinha com 100 deles. Como sou precavida, comprei logo duas caixas. Isso sem contar a caixinha que trouxe na bagagem. Só pra você ter uma ideia, das caminhadas,  deixei pra trás um tênis e uma sandália. Ficaram um caco. Tá  bom... tá bom... já eram bem batidinhos de viagens anteriores, é verdade. Hahaha.

Desculpa aí por não ter incluído sua amada Heloísa nessa viagem.  Acho que você lembra muito bem o motivo, né? Só viajamos com casais. Nada de levar vela. Mas Isa está muito bem inserida no grupo e nos encontros que fazemos em rodízio. Como não estaria? 

Cara, você vai ser vovô!!! Mas isso você já sabe, né? No Chá Revelação (aquele em que se revela o sexo do bebê) falamos muito de você, principalmente depois que foi revelado que Natália vai ter menina (Luana). Eu pedi e ela deixou eu colocar nessa cartinha uma foto dela com a filhinha no forninho e a vovó Heloisa.

Olha aqui seus amores.

Juro que todo mundo queria você presente pra tirar sarro da sua cara. Além de "painho" agora se derreteria com um "voinho" ou "vovô " ou "meu vovô ".  A curiosidade é muita pra saber como foi o seu sorriso de vovô babão igual a todos nós do grupo. Gerson e Celeste agora têm duas netas. Abelardo e Simone têm três,  mas os de Márcio moram agora no Canadá.  Lembra que ele estava pra mudar antes da pandemia? Então... Roberto e eu continuamos com um. 

Nessa semana sentimos muita saudade, por causa do seu aniversário na terra,  celebrado dia 23 de agosto. Mas é assim mesmo, né? Um dia nos reencontraremos.

Amigo, vou ficando por aqui, viu?  Um grande abraço meu e do seu amigo-irmão Roberto,  o gato.

Sua amiga, a coordenadora do grupo dos amigos-vizinhos, nomeada por você. 

Vanda.


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